#97 — Bastidores: O Hebreu

Episódio do podcast Vida de Jornalista publicado em 24/09/2021. Veja aqui a íntegra do roteiro

Vida de Jornalista
10 min readSep 24, 2021

Por Rodrigo Alves

O episódio em áudio está na Orelo, na Deezer, no Spotify, na Apple, no Castbox ou no seu aplicativo preferido (basta buscar por Vida de Jornalista).

O roteiro do episódio na íntegra:

[INÍCIO DO EPISÓDIO]

[LOCUÇÃO]

Oi. Eu sou o Rodrigo Alves, esse é o Vida de Jornalista, e quantas vezes você já me ouviu falando isso essa semana?

[VINHETA RÁDIO GUARDA-CHUVA]

[Voz feminina acompanhada do som de um guarda-chuva abrindo]

O Vida de Jornalista tem o selo da Rádio Guarda-Chuva. Jornalismo para quem gosta de ouvir.

[MÚSICA]

[LOCUÇÃO]

Essa é a semana mais frenética da terceira temporada do Vida, trazendo pra você de segunda a domingo bastidores de podcasts jornalísticos, ou feitos por jornalistas, ou com uma pegada jornalística, com muita informação, como é o caso desse papo de hoje. O fato é que tem episódio novo todo santo dia. Eu já falei essa frase outras vezes na série, mas a palavra santo nunca foi tão adequada como nesse episódio aqui. Então bora ligar o radinho.

[EFEITO DE RÁDIO SINTONIZANDO]

[TRECHO O HEBREU]

(Frases misturadas, uma por cima da outra, com música ao fundo)

- Religião vem da palavra religado.

- A religião eu acho interessante porque também é uma forma de fortalecer laços, né, com o grupo, ali…

- Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.

- Religião pra mim é amor, solidariedade, companheirismo, compaixão.

- Mas também eu não vejo a religião como determinante de uma espiritualidade.

- As religiões indígenas, é de comunhão com tudo, com a vida.

- Espiritualidade é uma forma de vivenciar a vida, acreditando em algo maior.

- Este é O Hebreu Podcast.

[LOCUÇÃO]

Chegou a hora de conhecer o maravilhoso O Hebreu, um podcast que não é sobre religião e espiritualidade, é sobre religiões e espiritualidades, no plural. E olha eu tava muito ansioso pra reencontrar essa dupla que eu conheci na oficina do Vida, e se você ainda não conhece, eu quero muito que você conheça. Lidomar e Lia, bem-vindos e fiquem à vontade.

[LIDOMAR]

Olá, todo mundo, ouvintes do Vida de Jornalista, é uma honra estar por aqui de novo. Eu me chamo Lidomar Nepomuceno.

[LIA]

Oi, gente, eu sou Lia Girão.

[LIDOMAR]

Sou um homem negro, gay, cearense, natural da cidade de Chorozinho, interior do Ceará, porém atualmente tô morando em Brasília.

[LIA]

Eu falo aqui de Fortaleza. Nasci em Fortaleza e ainda estou por aqui.

[LIDOMAR]

Eu sou antropólogo, sou professor, militante do movimento negro, coordenador de um dos grupos da Rede Nacional de Grupos Católicos LGBTQIA+.

[LIA]

Eu sou professora e pesquisadora na área de Sociologia, né, fiz minha graduação em Ciências Sociais e atualmente estou no mestrado pela Universidade Federal do Ceará. Eu sou cristã, evangélica, sou feminista.

[LIDOMAR]

E claro, né, não menos não importante, produtor e apresentador do podcast O Hebreu.

[LIA]

E tenho a honra e o prazer de ser hostess e produtora do podcast O Hebreu. A gente agradece muito esse convite, é um prazer imenso estar aqui.

[LOCUÇÃO]

Gente. Eu é que tenho que agradecer, né, olha essas pessoas, uma alegria gigante ter um pouquinho do Hebreu aqui no Vida. Lidomar e Lia, um antropólogo católico e uma socióloga evangélica. E em vez de cada um mandar um áudio separado, eles gravaram ao mesmo tempo, numa conversa, já que o Hebreu é uma conversa, um diálogo. Então é assim que a gente vai conhecer os bastidores de um dos podcasts mais originais da praça. Lidomar e Lia vão conversando, e eu, intrometido, vou dando uns pitacos de vez em quando, e tocando uns trechinhos pra ilustrar. Combinado? Então vambora, vamos começar com o Lidomar contando pra gente o que é O Hebreu.

[LIDOMAR]

O Hebreu é um podcast nordestino, pra gente é muito importante deixar bem demarcado esse lugar de um podcast produzido por três pessoas do Ceará. Além de mim e de Lia, temos ainda Ronaldo Nogueira, que faz uma assessoria de comunicação e cuida também da nossa identidade visual.

[LOCUÇÃO]

Que aliás é bem legal, bem elegante, como você já deve ter visto aí na capinha do episódio. E se você é uma pessoa cega ou com alguma deficiência visual, eu te conto: a logo tem um fundo azul escuro, escrito O Hebreu em letras brancas, e da letra O sobem uns traços numas linhas finas em amarelo e laranja, num formato parecido com uma chama de uma vela. É bem bonito. Mas eu interrompi o Lidomar, então voltando.

[LIDOMAR]

O Hebreu publica episódios quinzenalmente. Somos um programa de mesacast, um bate-papo, mais do que entrevista. Onde a cada episódio a gente discute diversos temas, sempre atravessados pelas religiões e espiritualidades. Então a gente discute política, por exemplo, sempre olhando como ela está no contexto brasileiro atravessada pela religiosidade cristã.

[TRECHO O HEBREU]

- Com o avanço do bolsonarismo e do fundamentalismo religioso cristão no Brasil, nós vimos os discursos de ódio ganharem mais força. Nunca ouvimos tanto a expressão que já tá tão normalizada: bandido bom é bandido morto. Esse contexto nos mostra a urgência de se pensar a relação entre cristianismo e direitos humanos.

- É considerando isso que no episódio de hoje a proposta é conversarmos sobre a relação das igrejas com o tema dos direitos humanos. E, como já sabemos, nenhuma discussão séria neste país pode se dar sem pautar a questão racial, não poderíamos também deixar de pautar o sistema carcerário no Brasil.

[LIDOMAR]

Ou trazemos a discussão da intolerância religiosa, do racismo, da misoginia, da LGBTQIA+fobia, também buscando perceber como essas formas de discriminação e violência podem ser atravessadas por uma compreensão religiosa fundamentalista.

[TRECHO O HEBREU]

- Dando continuidade à série Teologias Marginais, o nosso papo de hoje é sobre Teologia Queer.

- Não é possível olhar pras pessoas LGBTQIA+ no Brasil e ignorar o contexto de violência no qual essas pessoas estão inseridas. Nós sabemos que muito do discurso que sustenta a LGBTfobia no país tem nascido dentro dos ambientes de fé cristão, onde se recorre à Bíblia, às tradições e até mesmo à própria teologia pra condenar e marginalizar esses corpos dissidentes.

[LIDOMAR]

E pra potencializar, por assim dizer, esse diálogo, nós buscamos desde o início do podcast termos uma pluralidade de pessoas convidadas, sobretudo pessoas do Nordeste, pessoas negras, LGBTQIA+, mulheres, indígenas. Pessoas que representam grupos sociais marginalizados, vozes que nós queremos potencializar nesse espaço de diálogo que a gente se propõe a ser.

[TRECHO O HEBREU]

- Hoje para conhecermos mais a espiritualidade indígena e a trajetória de um povo, O Hebreu recebe a indígena do povo Anacé, cientista social e antropóloga Ruth Moraes.

[LIDOMAR]

O trabalho de pré-produção de cada episódio é sobretudo um trabalho de pesquisa. E é quando o espírito por assim dizer de cientistas sociais, que eu Lia somos, entra em ação pra pensar cada tema, pauta, e, claro, quem serão essas pessoas que a gente vai convidar pra bater esse com a gente.

[LOCUÇÃO]

E no meio dessas conversas, o podcast se tornou uma ferramenta pros dois se posicionarem, não tinha como ser de outro jeito, né. Vamos ouvir os dois falando sobre isso.

[LIDOMAR]

Amiga, você deve concordar comigo que é muito difícil pensar no Hebreu sem pensar em como ele se tornou pra gente um lugar de posicionamento político. Concorda, Lia?

[LIA]

Sim, é isso. É muito importante pensar no Hebreu justamente como esse espaço de disputa por um local político. Porque a gente percebe que, no meio cristão, existe um posicionamento, uma localização política esperada. E isso por conta de um discurso que ganhou muita força nos últimos anos. E aí O Hebreu busca justamente questionar qual este posicionamento que se espera dessas pessoas religiosas para além do cristianismo. E também promover a coexistência, né? Relações possíveis entre a nossa fé e a nossa visão política.

[MÚSICA]

[LOCUÇÃO]

Muito bem, muito bem. Mas agora, Lia e Lidomar, tá na hora de contar uma historinha, né, que a gente gosta. E é uma historinha de um momento especial do podcast, que tem a ver com isso que a Lia acabou de falar, sobre a questão política e sobre promover coexistência.

[LIDOMAR]

É mais ou menos pensando nisso que a gente quer trazer aqui um momento que foi muito especial, marcante e gratificante nesse pouco mais de um ano de vida do Hebreu. Que também tem a ver sobre quando eu e a Lia nos conhecemos.

[LOCUÇÃO]

Pronto, aí fica perfeito.

[LIDOMAR]

Em um evento que contaria com a fala de uma pessoa que já há bastante tempo era uma referência como liderança religiosa mas também como uma liderança política dentro do meio cristão, evangélico, mais especificamente.

[LOCUÇÃO]

Mas antes de revelar quem é, eu quero saber sobre esse primeiro encontro de vocês dois.

[LIDOMAR]

É até engraçado, porque mesmo a gente fazendo a mesma graduação na Universidade Federal do Ceará, a gente nunca tinha se esbarrado antes, porque eu estudava no diurno e a Lia no noturno. Não era isso, amiga?

[LIA]

Foi isso, e foi muito engraçado, porque a gente já frequentava o mesmo espaço acadêmico, e só fomos nos encontrar nesse rolê sobre fé e política. E aí a gente foi apresentado por um colega em comum da universidade, então meio que a gente pode dizer que não só a gente se conheceu nesse evento, mas que O Hebreu, posteriormente, anos mais tarde, nasceria desse encontro.

[LOCUÇÃO]

Caramba. Então conta, o que é que rolou nesse evento?

[LIA]

Mas então, a gente tava lá pra ouvir o Ariovaldo Ramos, né? E assim, ele já me deu permissão, então eu vou me referir a ele como Ari (risos). O Ari é um dos fundadores da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito. Pastor, é importante demarcar. Ele já foi inclusive diretor presidente da Visão Mundial no Brasil, que é uma organização internacional de ajuda humanitária que há anos faz um trabalho social e político muito importante. Ou seja, ele é uma pessoa envolvida com a fé cristã falando e militando sobre a importância de responder ao fundamentalismo crescente e a necessidade de se levantar em defesa da democracia. E a figura do Ari reflete muito isso que a gente experimentou ao atravessar esse momento político delicado e no mínimo conflituoso que foi sobretudo os anos de 2016 e 2017, né, com o golpe parlamentar que acabou com o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Importante perceber que não apenas existe a possibilidade de pessoas evangélicas, cristãs terem um posicionamento contra este fundamentalismo e o discurso de ódio, mas também a urgência desse debate ser feito de forma positiva dentro do contexto cristão. E isso diz muito sobre o nosso esforço de promover um diálogo, um espaço de acolhimento e de tolerância.

[LIDOMAR]

Então, por esse contexto todo, né, amiga, é que quando O Hebreu nasceu a gente já tinha o nome do Ari na lista de possíveis convidados. Era um sonho pra gente, um sonho distante, eu diria?

[LIA]

Foi muito engraçado porque ele era o convidado com quem a gente sonhava gravar assim, desde criancinha. Nosso sonho. E acho que por uma ansiedade a gente sempre viu como algo muito distante, quase impossível. Mas aí foi nessa segunda temporada quando a gente tava pensando em temas e pessoas pra convidar, que a gente pensou: ah, vamos correr esse risco, mesmo que a gente receba um não, mas fica aí uma ponte construída pra posteridade com essa pessoa, uma facilidade maior pra gente marcar algo.

[LIDOMAR]

Sem contar a saga que foi pra gente conseguir o contato dele, né, amiga? Enfim…

[LIA]

Então quando a gente fez o contato, eu não tinha ideia do que esperar, tava a equipe inteira nervosa. A gente leu, releu, formulou e reformulou o e-mail convite. E aí quando veio a resposta positiva, que a gente recebeu o contato dele pra finalmente poder marcar a data, foi um fenômeno no grupo, a gente ficou muito feliz. E o melhor de tudo é que tudo que ocorreu eu daí pra frente a partir daí, foi de uma forma muito tranquila e natural, desde o planejamento do episódio, a gravação do episódio, então foi uma experiência muito massa em todos os momentos.

[TRECHO O HEBREU]

- Dando início à nossa segunda temporada, com a série Teologias Marginais, no nosso nono episódio, o primeiro da segunda temporada, para falar sobre a Teologia da Libertação e a Teologia da Missão Integral, é com muita satisfação que O Hebreu recebe hoje no nosso estúdio virtual a irmã Téa Frigério e o pastor Ariovaldo Ramos.

- Olá, boa tarde, eu sou Ariovaldo Ramos, é um privilégio muito grande estar aí com vocês.

[LIDOMAR]

Foi muito especial pra gente poder contar com a participação do Ari. Sem sombra de dúvidas eu diria, isso deu um ânimo pra gente seguir com o projeto, sabe?

[LIA]

Nos outros episódios também, que seguiram, a gente conseguiu manter esse nível dos debates, com pessoas incríveis, com trajetórias longas e potentes nesse campo do debate religioso, na discussão sobre fé, política. Então acaba sendo inevitável pensar nessa gravação com Ari como para além de uma legitimação do nosso trabalho, mas também como um sinal de que a gente está no caminho certo e que a gente tem condições de continuar e ampliar esse debate que a gente tem construído.

[LOCUÇÃO]

Tá aí a prova de que nem tudo é fácil, mas quando dá certo, o resultado é esse, né?

[LIDOMAR]

É isso gente vale a pena investir nos nossos projetos ainda mais quando a gente encontra as parcerias certas. A gente ama e acredita muito no que temos produzido no Hebreu.

[LOCUÇÃO]

Obrigado demais, Lia, Lidomar, por dividirem com a gente um pouquinho do trabalho de vocês. E parabéns pelo Hebreu.

[LIA]

É isso, pessoal. Muito obrigada, e um cheiro em vocês.

[LIDOMAR]

Valeu, gente. Abraço.

[MÚSICA]

[LOCUÇÃO]

Obrigado também a você que ouviu até aqui. Segue O Hebreu no instagram, @ohebreu. Dá pra apoiar o podcast no Apoia.se, na Orelo ou no pix pelo email ohebreupodcast@gmail.com.

[MÚSICA]

[LOCUÇÃO]

Você que tá acompanhando a série, esse já foi o quinto episódio. Tá passando rápido, né? Se você tá ouvindo esse no dia do lançamento, hoje é sexta-feira, mas não vai parar no fim de semana não, tem mais dois, sábado e domingo, a gente ainda volta na região Norte, e depois fecha no Nordeste. Me conta o que você tá achando e, principalmente, compartilha esses episódios, recomenda nas suas redes, manda nos grupos, são episódios curtinhos, fáceis de ouvir, então espalha a palavra por aí. Beleza? Amanhã tem mais. Um beijo, um abraço, e até lá.

[FIM DO EPISÓDIO]

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